Em uma noite fria qual meu coração,
Entoava o silêncio uma bela canção,
Ah, era uma canção lúgubre e divinal.
Quando a ouvia minha alma gris estremecia,
Enquanto suspirava tétrica e sombria,
Ansiando que fosse a eufonia eternal...
A Lua tristemente pálida e brilhosa
Dormia entre as estrelas magas, silenciosa,
E estas fulgiam sobre o céu azul-escuro.
Como fulgiam na penumbra melancólica!
Que pintura angélica, porém diabólica!
Era tudo tão lindo, tão triste, tão puro!
E deveras chovia mui placidamente...
Parecia-se que, melancolicamente,
Anjinhos dum - quiçá - paraíso choravam.
Sentindo aquelas gotas gélidas, melífluas,
Morriam-se as tristuras minhas eternífluas,
Porém, aquelas cousas belas me matavam!
Matavam-me porque me faziam lembrar
A lânguida mulher que me fizera amar
Nas noites merencórias tal como a esperança;
Uma flor terna que sempre me acompanhara,
Musa pálida que eu tanto outrora sonhara,
Mas que hoje morta jaz e é só uma lembrança!